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“... Joãozinho andava deslumbrado. Electrizara-o rápido o simpatismo daquele entusiasmo. A sua alma virgem, inebriada, alteava-se ridente, como um balão cor-de-rosa no céu límpido e azul... E meio daquele delírio, parecia-lhe bem triste e destoante a sua jaqueta de pano preto, debruada de larga fita de seda, a sua calça cinzenta de riscado, a sua ampla faixa, também preta, com duas grossas borlas de lã azulclaro. – Queria vestir-se de vermelho.”
Extracto do capitulo III, do romance, escrito em 1896, Mulheres da Beira –A Fritada, de Abel Botelho.
“... Retirou, pensativa e triste, a rapariga. Nunca a tinham recebido assim... Que haveria?... E então que ela naquele dia se tinha arranjado o mais garridamente que pudera para rever o seu amor! – Vestira uma saia nova de burel, com sua larga barra encarnada, toda em recortes; um coletinho decotado e curto, com enfeites de veludinho verde garrafa, acolchetado na frente, jaqueta também de burel, com duas ordens de pequeninos botões multicores, sobrepostos em parte uns aos outros. A camisa forte de estopa subia-lhe em pregas longitudinais à altura do pescoço, que cingia muito justa, para abrir-se depois e cair num largo cabeção de renda. Ao colo uma fiada de pequenas contas de oiro, na cabeça um lenço de ramagens, nos pés uns tamanquinhos brocheados de amarelo. – Tudo afinal, perdido! Que paixão!”...
Extracto do capitulo V, do romance, escrito em 1896, Mulheres da Beira –A Fritada, de Abel Botelho.
Traje usado para ir à missa ao Domingo e para ir à Romaria.
A mulher veste saia de chita, brocado ou de riscado enfeitada com renda preta ou de brocado, blusa de cetim. Na mão leva uma sombrinha de rendas e uma bolsinha bordada com missangas.
O homem, fato preto de surrobeco com colete de astracã.
Era com estes trajos que em 1890 os noivos mais abastados iam à Igreja «receber-se», como então se dizia.
A mulher vestida de preto, sendo o seu fato de tecido fino, de armur, depois muito bem guardado na arca ou baú até à hora de servir de mortalha e de onde apenas saía para algumas cerimónias religiosas e um ou outro funeral de pessoa mais grada e respeitada., lenço branco de seda na cabeça e uma golinha branca a enfeitar a blusa.
O homem também vestido de preto, usa uma camisa de linho branco com folhinhos, colete e casaco de astracã.
O traje do pastor era de burel, surrobeco, completava-o uma pequena manta dobrada sobre um dos ombros e para sua melhor protecção. As polainas servem de caneleiras.
O vestuário desta gente é a utilização inteligente dos recursos do homem (gado), contra as intempéries e contra o mato, no seu habitat (a serra) a sós com o gado, errante de dia, e à beira do bardo de noite.
Da palha centeia faz o homem do campo capas de abrigo: são as “caroças”, “croças”, “palhoças”, com que se defende das chuvas, como das neves. O corpo cobre-se com a capota, assim feita; para a cabeça um chapéu de palha; para as pernas, tem polainas, igualmente de palha, que enfia nas pernas como quem empalha garrafas.
AA mulher usava um traje de trabalho normal, agasalhava-se coma a capucha e meias de lã. Calçava um socos ou socas para protecção.
Durante as horas de vigia do gado, aproveitava para fazer fiar alguma lã, usando a roca e o fuso, ou então a “trança” de palha para fazer os chapéus muito usados na zona mais serrana.
Ao domingo para ir à Missa e de tarde para bailar no adro e terreiros vestem-se os melhores fatos:
mulher com saia de armur, leiras de seda ou chita enfeitada com fitas de veludo ou outras guarnições e blusa de aba. Na cabeça usa lenço de seda de cores garridas.
O homem usa fato de surrobeco preto ou castanho, as calças são com boca de sino ou polainas, camisa de linho branco. Chapéu ou carapuça na cabeça e lenço encarnado ao pescoço.
Os campos de milho, de centeio e a vinha constituíam uma das riquezas da região Cinfanense.
A sacha era trabalho duro de dias e dias ao sol ardente, amenizado por vezes por lindas canções.
Vinham depois as regas que eram feitas dias e noites consecutivas, uns regando no meio do milho enquanto um casal sobre uma roda ia puxando a água.
A mulher veste saia de riscado, que, quando anda a regar, levanta mostrando o saiote de flanela, que levava ao fundo uma pequena renda, blusa de linho branco, de chita ou de riscado e na cabeça usa lenço de lã ou algodão e chapéu de palha.
Em cima, do lado esquerdo, junto aos cós, apresentam uma abertura, para acesso a pequeno bolso cosido no interior ou para a proprietária se limpar ao saiote depois de urinar, necessidade que fazia quase sempre de pé, sobre mato, palha, ervas ou algo que amortecesse a queda do líquido por forma a não molhar excessivamente as pernas, por vezes era também usada uma algibeira em pano.
A mulher usava as saias sempre compridas, pelo artelho, têm cerca de 4 a 5 metros de roda.
A contribuição da mulher nos trabalhos da cultura vinhateira é importante: apanha as vides, enxofra, acarreta a água para o sulfato, sendo esta uma das suas mais árduas tarefas; vindima e carrega os cestos nos bardos, transportando-os à cabeça para os lagares.
O trabalho nos lagares é feito pelos homens. No entanto, mais de uma vez tem sucedido as mulheres colaborarem também nessa faina. Quando isto sucede, as mulheres vestem trajo masculino, arregaçando as calças ou calçonitos de grossa estopa, até ao cimo da coxa e pisando as uvas com energia, sem mostras de cansaço. Na cabeça põem um lenço costumado e chapéus de feltro ou palha, havendo algumas que, antigamente, se apresentavam de carapuço.
Depois do trabalho árduo da cultura do vinho, havia que o transportar para outros lugares e faziam-no os homens que levavam às costas o odre (saco de coiro ou peles, destinado a transporte de líquidos) ou no animal “ burro ou asno” pelas encostas acima.
As blusas, subidas até ao pescoço, eram forradas de pano barato, se o tecido se revelava transparente, minimamente que fosse. As mangas compridas terminavam em punho trabalhado com alguns cuidados, mesmo se feitas de chita ou de riscado.
Para o frio, os melhores agasalhos eram a capucha e o xaile; mas usavam-se muito também o mandil, a saia e o avental de costas.
O pé descalço era o «calçado» mais corrente. No entanto, os tamancos e as chinelas faziam igualmente parte dos usos, sobretudo se se tratava de ir à Missa, à feira ou à festa.
Para os homens tudo era mais simples: a camisa de linho, as calças de estopa, de seriguilha, de burel, de surrobeco ou de cotim para o trabalho e para o domingo e as festas enquanto tinham ar de novas.
Nos pés bem calejados de quilómetros e quilómetros ao léu apenas os tamancos e os socos, muitas vezes encoirados, que as botas só lá para as sortes e, ainda assim, só no caso de a vida correr bem.
Na cabeça o chapéu de palha ou “braguês” de copa redonda e alta e aba de 7 a 10 centímetros. À medida que envelhecia a aba ia sendo aparada, sendo possível avaliar o tempo de uso de um chapéu pelo tamanho desta. Depois de completamente velho e roto mandava-se ao alfaiate da terra que o renovava cobrindo-o de cotim, num trabalho de habilidade e treino.
No dia 8 de Janeiro de 2012, a convite da Associação do Bairro de Santo António - Nelas, o Grupo Folclórico de Cantas e Cramóis, apresentou os seus cantares de Janeiras, no Cine-Teatro de Nelas.
O Cine-Teatro estava repleto e cheio de entusiasmo "vibrando" com os cânticos que se faziam entoar pela sala. Não podemos deixar de agradecer a toda a Associação do Bairro de Santo António, em especial à Dr.ª Maria João e a nossa grande amiga Fernanda "Minhota", que sempre nos surpreende pelo bem receber. Foi agradável olhar para alguns espetadores mais idosos e ver que lábios acompanhavam as vozes do "Cantas e Cramóis".
Obrigado a todos
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